“Esta iniciativa é bem-vinda pra que possamos eternizar e homenagear vozes especiais que deram vida ao nosso estilo musical português”, ressaltou o presidente do Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Estado de São Paulo –CCLB, Dr. Manuel Magno Alves, que saudou com muito carinho e respeito o público presente neste projeto musical que, com certeza, cativou a todos. Vale ressaltar que o Fado é considerado pela organização UNESCO Patrimônio Imaterial da Humanidade desde novembro de 2011.
Em meio ao espetáculo, muitas homenagens foram realizadas. Vamos exibi-las em seguida:
Conceição de Freitas, fadista natural da Madeira e emigrada ao Brasil, ainda jovem, dedicou seus 41 anos de carreira a cantar o fado em solo brasileiro, vindo a se destacar como uma notável intérprete do fado castiço. Para dedicar-lhe homenagem, Alexandre Matis cantou “Fado e Poesia” com versos de autoria da própria Conceição e com música do “Fado Isabel”, composição do mestre da guitarra portuguesa José Fontes Rocha.
Alfredo Marceneiro, nascido em 1888, é considerado como o patriarca do fado, vindo a influenciar gerações de fadistas, incluindo a própria Amália Rodrigues. Para relembrá-lo em um dos temas que o celebrizou, nos versos de Henrique Rego e na música do tradicional Faro Corrido. Na voz de Alexandre Matis, “Cabelo branco é saudade”.
Lucília do Carmo, mãe do também fadista Carlos do Carmo, é conhecida também como a dama do Fado Corrido, permanecendo nas lembranças do público como uma das melhores vozes do fado. No tema do “Fado Mouraria” e nos versos de Gabriel de Oliveira, Glória de Lourdes interpretou Maria Madalena.
“Canto normalmente e de preferência o Fado Castiço, porque só assim poderei dar maior honestidade ao público, aquilo que é a minha verdade”. Palavras do fadista lisboeta Mário Rocha, a maior expressão de vozes masculinas do Fado Castiço no Brasil. Para interpretar “Não posso deixar o fado”, um tema de seu repertório, com versos de Conde de Sobral e música do “Fado Vianinha”, de Francisco Viana, o fadista Vinícius Rocha.
Um dos fadistas mais queridos do público português no início do século XX, graças à sua voz rouca e estilo inconfundível, e também por ter sido o primeiro guitarrista e fadista da história do fado. Foi recordado por um de seus maiores êxitos, o fado canção “Não venhas tarde”, de autoria de João Nobre e Aníbal Nazaré, o fadista Carlos Ramos.
Instrumental – O guitarrista Mário Rui que, por mais de 50 anos, dedicou-se à guitarra portuguesa e que deixou como legado, além de seu estilo especial e típico à moda de Lisboa, seus ensinamentos para toda uma geração de músicos de fado no Brasil. Em sua homenagem, a guitarra portuguesa de Vinícius Rocha, a viola de fado de José Carlos Rogiero e a viola-baixo de Sérgio Borges.
O show prosseguiu: para destacar Florbela Espanca, uma das mais expressivas poetisas da Língua Portuguesa do início do século XX, a fadista Maria de Lourdes interpretou versos de Florbela com música e direção da fadista Teresa Silva Carvalho, com o tema “Amar”.
Considerado por muitos como um Rei sem Coroa e um fadista detentor de uma voz genuína e arraigada às suas raízes do bairro da Mouraria, em Lisboa, foi a vez de relembrar Fernando Maurício com o tema “Boa noite solidão”, de autoria de Jorge Fernando no tema de Carlos da Maia.
A seguir foi relembrado o fadista Antônio Mourão, marcado por uma extrema versatilidade interpretativa que lhe rendeu grandes sucessos, sobretudo com o gênero chamado Fado Canção. Para lhe prestar homenagem dupla, o fadista Antônio Carlos interpretou, com letra de Antônio Campos e música de Joaquim Pimentel, o fado “Dá tempo ao tempo” e, em seguida, com versos de Manuel Paião e música de Eduardo Damas, o fado “Ó tempo volta pra trás”.
Outro homenageado, além de ser um dos precursores do violão do fado em São Paulo, em meados dos anos 50, não se limitou tão somente a tocar, mas também a ensinar seu amado ofício através da academia musical, que levava seu nome, durante mais de 50 anos na Capital Paulista. Para relembrar Antero Martins, a sua própria filha, Elyana Martins cantou os versos de autoria do próprio pai “Gaivota de Asas Quebradas” na música do fado Zé Antônio.
A próxima canção foi “Milho Verde”, cantiga folclórica de criação de Zeca Afonso, uma das figuras centrais responsável pela instauração da democracia através do movimento democrático conhecido como 25 de Abril. Aqui do Brasil, “Milho Verde” foi consagrado pela artista de mil facetas, Maria Alice Ferreira, que dedicou seus 60 anos de vida artística a interpretar com maestria desde o Tango ao Samba, fazendo paragem especial pelo Fado e sendo reconhecida pelo estilo castiço em suas interpretações.
Instrumental – Manuel Marques. Apesar de ser um instrumento tipicamente português, a guitarra portuguesa lentamente foi saindo de seu âmbito para ir mais além com o objetivo de penetrar nos corações mais distantes e para se fazer entender por diferentes almas. O guitarrista, compositor e arranjador Manuel Marques dedicou seus mais de 65 anos de carreira musical a nos prestigiar com sua sensibilidade e suas interpretações virtuosas. Numa referência ao “Trio Manuela Marques”, Wallace Oliveira com a guitarra portuguesa, Sérgio Borges ao violão e Bonfim no baixo, Este cenário levou o público a uma Volta ao Mundo nas asas da guitarra portuguesa.
“Era a canção da bebedeira do calão rebaixado por unanimidade. Quem diria que nosso fado tornaria-se Patrimônio da Humanidade?” Para relembrarmos o fadista Fernando Farinha, ícone na era das rádios em Portugal e detentor de numa voz única, o tema “Canção de Lisboa” na voz de Tiago Felipe.
Como bons portugueses, desbravadores dos 7 mares, velejamos com os versos da canção “Aquela janela virada pro mar”, um dos grandes sucessos de Tristão da Silva, fadista marcado por sua versatilidade interpretativa, desde os fados canções até aos fados castiços. É nessa embarcação de saudade, nos lembramos também da voz melodiosa e o carisma inestimável do fadista Dam Felix, que dedicou seus mais de 38 anos de carreira à música portuguesa e, especial, ao fado, vindo a ser aqui no Brasil o fadista que consagrou este lindo tema do poeta Frederico de Brito: “Aquela janela virada pro mar”.
Beatriz da Conceição foi uma das figuras do fado mais ativas da segunda metade do século XX. Dona de uma personalidade forte e um estilo marcante de interpretar o fado raiz foi homenageada por Ciça Marinho no tema “Meu corpo”, criação de Ary dos Santos e Fernando Tordo.
Mostrando desde cedo uma aptidão para o fado, Maria Teresa foi uma das maiores expressões da época de ouro do fado nos anos 50, deixando como marca registrada sua suave forma de interpretação. “Fado pechincha” no tema “Fado de outrora”. Solo instrumental dedicado aos mestres das cordas com os músicos: Vinícius Rocha, Wallace Oliveira, Hellinton Bettes, Alexandre Matis, Igor Rodrigues, José Carlos Rogério, Sérgio Borges, Marcos Sabo e Bonfim.
E como disse a estrela maior do fado, Amália Rodrigues, “o que interessa é sentir o fado. Porque o fado não se canta, acontece. O fado sente-se, não se compreende, nem se explica”.