Era filho de Teodoro Cândido da Araújo, recebedor da antiga Junta dos Juros, hoje Junta do Crédito Público, e de D. Maria do Carmo de S. Boaventura, filha de José Rodrigues de Carvalho, pedreiro empregado nas obras da Casa Real.
A sua educação literária começou com o estudo do latim e latinidade nas aulas dos padres congregados de S. Filipe Nery, do hospício das Necessidades, e seu mestre foi o padre Vicente da Cruz.
Preparou-se para ingressar na Universidade de Coimbra, mas em 1827, seu pai ficou cego, e seu avô materno sofreu um grande revés da fortuna, e assim faltaram-lhe os recursos. Contudo, Alexandre Herculano não desanimou do propósito de se educar, e conseguiu aprender particularmente os idiomas francês, inglês e alemão, matriculando-se no primeiro ano da Aula do Comércio em 1830, seguindo o curso de Paleografia, a que então se chamava Diplomática, na Torre do Tombo. Tinha 21 anos, e com os conhecimentos variados que adquirira, mostrou que a sua mocidade fora bem dedicada ao estudo.
Durante sete anos, foi diretor da Panorama, revista de caráter artístico e científico na qual publicou várias de suas obras. Dedicou-se seriamente à atividade de historiador, pesquisando e coletando documentos por todo o país. Teceu conflitos ideológicos com o clero porque se negou a admitir como verdade histórica o chamado “Milagre de Ourique” – segundo o qual Cristo aparecera ao rei Afonso Henriques naquela batalha. Sua desilusão com a vida pública foi aumentando gradualmente, o que o fez recusar títulos e nomeações e ocupar-se da agricultura em sua propriedade em Vale de Lobos, próximo a Santarém. Mesmo retirado, gozou de grande prestigio até o fim da vida.
Herculano foi o responsável pela introdução e pelo desenvolvimento da narrativa histórica em Portugal. Juntamente com Almeida Garrett, é considerado o introdutor do Romantismo em Portugal, desenvolvendo os temas da incompatibilidade do homem com o meio social.
Deixou ensaios sobre diversas questões polêmicas da época, que se somam à sua intensa atividade jornalística. A parte mais significativa da obra literária de Herculano se concentra em seis textos em prosa, dedicados principalmente ao gênero conhecido como narrativa histórica. Esse tipo de narrativa combina a erudição do historiador, necessária para a minuciosa reconstituição de ambientes e costumes de épocas passadas, com a imaginação do literato, que cria ou amplia tramas para compor seus enredos. Dessa forma, o autor situa ação num tempo passado, procurando reconstituir uma época. Para isso, contribuem descrições pormenorizadas de quadros antigos, como festas religiosas, indumentárias, ambientes e aposentos, topografias de cidades.
A narrativa de caráter histórico foi desenvolvida inicialmente por Walter Scott (1771-1832), poeta e novelista escocês que escreveu A Balada do Último Menestrel e Ivanhoé, ntre outros trabalhos. Também o francês Vitor Hugo (1802-1885) serviu de modelo a Herculano: Hugo escreveu o romance histórico Nossa Senhora de Paris, em que surge Quasímodo, o famoso “Corcunda de Notre-Dame”. A partir desses modelos, desenvolveu-se a narrativa histórica de Herculano, que pode ser considerada o ponto inicial para o desenvolvimento da prosa de ficçao moderna em Portugal.
As Lendas e Narrativas são formadas por textos mais ou menos curtos, que se podem considerar contos e novelas. Herculano abordou vários períodos da historia da Península Ibérica. É evidente a preferência do autor pela Idade Média, época em que, segundo ele, se encontravam as raízes da nacionalidade portuguesa.
O trabalho literário de Herculano foi, juntamente com as Viagens na Minha Terra, de Garrett, o ponto inicial para o desenvolvimento da prosa de ficção moderna em Portugal. Assim, a partir disto, as narrativas históricas foram gradativamente enfocando épocas cada vez mais próximas do século XIX.
Obras principais
Poesia
• A Voz do Profeta – 1836
• A Harpa do Crente – 1838
• Poesias – 1850
Teatro
• O Fronteiro de África ou três noites aziagas (drama histórico português
em 3 atos) – (Representou-se em Lisboa, em 1838, no teatro do Salitre,
foi editado no Rio de Janeiro em 1862)
• Os Infantes em Ceuta – 1842
Romance
• O Pároco de Aldeia (1825)
• O Galego: Vida, ditos e feitos de Lázaro Tomé
Romance histórico
• O Bobo (1128) – 1843.
• O Monasticon
o Eurico, o Presbítero: Época Visigótica – 1844
o O Monge de Cister; Época de D. João I – 1848
o Lendas e narrativas – 1851
o 1.º tomo:
▪ O Alcaide de Santarém (950-961)
▪ Arras por Foro de Espanha (1371-2)
▪ O Castelo de Faria (1373)
▪ A Abóbada (1401)
o 2.º tomo:
▪ Destruição de Áuria: Lendas Espanholas (século VIII)
▪ A Dama Pé de Cabra: Romance de um Jogral (Século XI)
▪ O Bispo Negro (1130)
▪ A Morte do Lidador (1170)
▪ O Emprazado: Crônica de Espanha (1312)
▪ O Mestre Assassinado: Crônica dos Templários (1320)
▪ Mestre Gil: Crônica (Século XV)
▪ Três Meses em Calecut: Primeira Crônica dos Estados da
Índia (1498)
▪ O Cronista: Viver e Crer de Outro Tempo
História
• História de Portugal: 1.ª época, desde a origem da monarquia até D.
Afonso III – 1846-1853
• História das Origens e Estabelecimento da Inquisição em Portugal –
1854/1859
• Portugaliae Monumenta Historica – 1856-1873