“Fernandes projetou-se no cenário internacional das artes como curador (entre 1996 e 2002) e diretor (de 2003 a 2012) do Museu de Serralves, na cidade do Porto, contribuindo decisivamente para transformar o magnífico espaço cultural do norte de Portugal num marcante endereço de arte contemporânea da Europa”, escreveu o instituto brasileiro, no anúncio do novo diretor, publicado no seu sítio, na Internet.
O Instituto Moreira Salles (IMS) recordou igualmente os sete anos de trabalho de João Fernandes como subdiretor do Museu Rainha Sofia, de Madrid, em Espanha, desde 2012 — um museu que privilegiou “uma arte mais criativa e insinuante”, sem ceder “à tentação de realizar grandes exposições ‘blockbusters’” –, e enumerou ainda algumas exposições promovidas pelo curador, como as retrospectivas dedicadas aos artistas Dara Birnbaum, Douglas Gordon, Grazia Toderi, Tacita Dean e Paula Rego, e aos brasileiros Antonio Manuel, Cildo Meireles e Lygia Pape.
À Agência Lusa, Fernandes disse que o Brasil é “um país com formas extraordinárias de relação entre as culturas popular e erudita”, uma dimensão particularmente importante neste momento da sociedade brasileira, “um país muito polarizado”. É um lugar onde devo estar”, salientando que, no Brasil, é um desafio especial “tornar as coisas acessíveis a pessoas que muitas vezes não têm ideia do seu direito a conhecer a arte do temp o em que vivem”.
O novo diretor, desde 18 de agosto, reconhece que há desconhecimento mútuo entre Portugal e Brasil no campo artístico, destacando que “a literatura brasileira é pouco conhecida em Portugal” e que “a arte portuguesa ainda tem muito para se dar a conhecer”. Salientando a qualidade das equipes do IMS, Fernandes referiu ainda que, no novo ciclo, se procurará “levar ao mundo” a atividade e o acervo da instituição.
Nascido em 1964, em Bragança, João Fernandes licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tendo, entre 1992 e 1996, organizado, como comissário independente, diversas exposições em Portugal, Espanha e França.
Também foi comissário das representações portuguesas na 1.ª Bienal de Arte de Joanesburgo, em 1995, na 24.ª Bienal de Arte de São Paulo, em 1998, e da 50.ª Bienal de Veneza, juntamente com Vicente Todolí (a quem sucedeu no cargo de diretor do Museu de Serralves).
Em 2018, a Art Review incluiu João Fernandes entre as cem p essoas “mais influentes”, na área da arte, em nível mundial, destacando em particular a exposição “Fernando Pessoa: Toda a arte é uma forma de literatura”, patente na instituição espanhola no primeiro semestre do ano passado, comissariada por Fernandes com a historiadora Ana Ara.
Vale destacar que o IMS é uma organização sem fins lucrativos fundada pelo diplomata e banqueiro Walther Moreira Salles. A sua história remonta a 1987, com a criação do Instituto de Artes Moreira Salles, e tem continuidade em 1990 com a Casa de Cultura Poços de Caldas, em Minas Gerais, onde nasceu o IMS, em 1992. Sucederam-se a instalação em São Paulo, em 1996, e em Belo Horizonte, em 1997, antes da abertura no Rio de Janeiro, em 1999.
O instituto tem por objetivo a promoção, a formação e a conservação de acervos, a par do desenvolvimento de programas culturais em particular nas áreas de fotografia, iconografia, artes plásticas, literatura, música e cinema. De acordo com o seu ‘site’, reúne os “mais importantes testemunhos” de fotografia no Brasil, desde as origens, no século XIX, até hoje.
Possui igualmente acervos dos Diários Associados no Rio de Janeiro, um arquivo sonoro que remonta aos “primórdios das gravações” da música brasileira e arquivos pessoais de autores como Otto Lara Resende, Érico Veríssimo, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiroz, Lygia Fagundes Telles e Paulo Mendes Campos.
“Memória está em quase tudo o que o IMS faz”, lê-se no ‘site’ da instituição. “Ser guardião do passado é missão das mais nobres. De um passado que não fique estagnado, mas que seja também fundamental para entender o presente e enfrentar o futuro”.
Fonte: Portugal Digital