Gestor Executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade na EDP Brasil, iniciou a sua carreira como adjunto do diretor-geral do Ambiente do Governo de Portugal e aderiu ao setor elétrico em 2005, quando ingressou na Companhia Portuguesa de Produção de Eletricidade na área de meio ambiente. Passou depois para a EDP Produção onde desempenhou funções nas áreas de Desenvolvimento de Negócio e Organização e Processos. Foi Superintendente de Meio Ambiente da EDP Energest, gestor-executivo de Sustentabilidade da EDP Brasil e diretor-executivo do Instituto EDP. É licenciado em Engenharia do Ambiente pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e possui MBA pela Universidade Católica Portuguesa.
Não conheço dois povos que possuam tanta sintonia como portugueses e brasileiros, mesmo apesar de existir um oceano de coisas que nos separaram. Mas, para mim, é exatamente nessa dualidade que reside a riqueza da experiência de estar no Brasil. Esse país – que é também um continente – com seus contrastes regionais, com a sua enorme diversidade, que tanto se dá a conhecer, como se esconde em sua complexidade.
Hoje reconheço que só conhecemos verdadeiramente um país quando moramos nele. E conhecer o Brasil é para mim um processo de uma riqueza sem fim. O Brasil não é igual a Portugal. Morar e trabalhar no Brasil constituem experiências profundamente diferentes das mesmas em Portugal. O Brasil é um país de extremos; tudo acontece no Brasil em “doses industriais”! O melhor e o pior. Aqui convivem vários mundos, infelizmente, nem sempre de forma pacífica.
Se tivesse que destacar alguns aspectos com os quais senti estranheza nos primeiros tempos, citaria, em primeiro lugar, da grande abertura de espírito dos brasileiros. Das possibilidades que, constantemente, se abrem nos mais variados domínios. Algo de novo está sempre a acontecer em algum lugar do Brasil. Pensaria também na alegria do povo, sobretudo da felicidade na adversidade. Foi realmente novo ver pessoas mantendo sorrisos, não se fechando em si mesmas em situações de extrema dificuldade. “Amanhã será melhor” pensam sempre os brasileiros. É uma atitude positiva e otimista perante a vida. Tão diferente de Portugal. Também senti – e não posso deixar de sentir ainda hoje – um desconforto com as desigualdades sociais, sempre muito presentes, cujo desenlace óbvio é a violência urbana.
É neste contexto que vejo as relações Brasil – Portugal como fundamentais para os dois países. Se, por um lado, Portugal pode ser um parceiro do Brasil na construção de uma sociedade mais justa, por outro, o Brasil tem muito a ensinar a Portugal sobre como alargar horizontes, abrir possibilidades, sonhar grande. Na economia, Portugal tem todas as condições de ser uma verdadeira porta de entrada dos produtos e serviços de empresas brasileiras nos mercados europeus, tipicamente mais exigentes. E o Brasil com seus mais de 200 milhões de habitantes e tantas necessidades por atender, poderá acolher diversas soluções desenvolvidas por companhias portuguesas.
Acredito que a força que nos une, que tornaria possível essa interação entre as culturas e as pessoas, é a Língua Portuguesa. É com ela que criamos a nossa comunicação em todos os sentidos da palavra. Em Português, celebramos o passado, aperfeiçoamos o presente e trabalhamos para o futuro.
Na EDP, queremos homenagear e preservar esse elo. Para isso, estamos patrocinando a reconstrução do Museu da Língua Portuguesa, o único espaço cultural dedicado à história e à proteção do nosso idioma. Também nos tornamos apoiadores da Festa Literária Internacional de Paraty – FLIP e lançamos no ano passado a exposição itinerante “A Energia da Língua Portuguesa”, um museu sobre rodas que atravessa o País levando informações sobre o Português para as comunidades de todas as regiões.
Finalmente, destacaria a importância do Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Estado de São Paulo, como espaço privilegiado de partilha de experiências, dando apoio e orientação aos brasileiros que pretendem ter um conhecimento de Portugal e vice-versa. E, ao mesmo tempo, lembrando-nos sempre que a cultura de um povo, embora em constante mutação, tem história, tem raízes que importam preservar para que não se apaguem para sempre.