Formação universitária: Química Industrial, Ciências Contábeis na Universidade Mackenzie. É conselheiro vitalício e coordenador do Museu Histórico da Portuguesa de Desportos e membro do Elos Clube São Paulo Sul.
As relações Portugal e Brasil sempre viveram entre a idealização e a realização. Muito se tem sonhado, mas momentos de dificuldades têm acontecido. Não podemos negar, que apesar de tudo, existe um empenho de ambos os países, para que a melhoria das relações seja uma constante.
As relações econômicas tiveram diversos estágios, desde um marasmo acomodado, até os grandes investimentos, entre os dois países, ocorrido a partir do fim do século passado. Grandes empresas de ambos os lados do Atlântico como: EDP, Brisa, Portugal Telecom, Embraer, Itaú, Votorantim e outras deram uma nova feição às relações econômicas, que tinham se caracterizado anteriormente, por esforços isolados de grandes empresas de imigrantes, muito bem sucedidos, como Valentim dos Santos Diniz com o “seu” Pão de Açucar. Hoje, devido à crise que assola a Europa, há uma redução dos investimentos das grandes empresas portuguesas no Brasil. Em compensação, pequenas e médias empresas procuram espaço, pesquisando novas oportunidades de progresso, num país de grande população e consequentemente com excepcional mercado consumidor.
O relacionamento político teve momentos de euforia e conturbação. Juscelino Kubitschek deu às nossas relações uma característica de grande amizade e profundo respeito, proporcionando momentos de empolgação, como foram suas viagens a Portugal e a vinda do presidente Craveiro Lopes ao Brasil. Foi num desses momentos bons das relações, que se forjou a concessão da dupla nacionalidade aos cidadãos dos dois países. Na década de 70 houve um mal estar, em virtude do Brasil ter sido o primeiro país a reconhecer a independência das ex-colônias portuguesas da África. Hoje as relações políticas são mantidas num melhor nível, com a criação da CPLP, que fomenta o intercâmbio entre todos os oito países lusófonos.
As relações culturais não têm o mesmo nível das décadas de 40 e 50, quando a presença de artistas como Beatriz Costa e Amália Rodrigues provocavam grandes agitações no Brasil e Ivon Curi, Bibi Ferreira, Badaró e Mara Abrantes, eram sucesso em Portugal, tendo alguns fixado residência lá. Presentemente o fluxo cultural tem uma maior intensidade para Portugal onde os artistas brasileiros como Lima Duarte, Roberto Carlos, Fafá de Belem, Ney Matogrosso, Maria Betânia, Tony Ramos continuam sendo idolatrados, enquanto os artistas portugueses não têm espaço, com poucas exceções, limitando-se a apresentações para a colônia e seus descendentes. As exceções estão ocorrendo, mais recentemente, onde artistas portugueses, contratados pela TV Globo, para fazer novelas, vêm conseguindo notoriedade, conseguindo fazer grande sucesso.
O intercambio teatral é quase nulo e o do cinema limita-se à realização de poucos festivais de baixa repercussão. Podemos dizer que não existe a exibição de filmes dos dois países nos circuitos comerciais do outro. O intercambio esportivo já foi bem maior quando foram criados os jogos luso-brasileiros. Nos dias atuais, nem o futebol profissional o vôlei e o bola ao cesto fomentam esse intercambio, que só existe devido à presença, em grande número, de atletas brasileiros desses esportes em Portugal.
Devemos fazer também uma referencia à diferença de tratamento dos órgãos de comunicação social nesses nossos dois países. Enquanto em Portugal as notícias do Brasil ocupam sempre um destaque especial, no Brasil a cobertura às ocorrências em Portugal, ou referentes a ele, são praticamente ignoradas. Infelizmente isso ocorre com todos os países lusófonos.
O novo acordo ortográfico está provocando alguma turbulência nas relações entre os dois países, apesar de já ter sido aprovado em todas as instancias políticas. Para bem da língua de Fernando Pessoa, Camões, Machados de Assis, Gonçalves Dias e outros, será necessário chegar-se a uma solução, que atenda a exigência de criarmos relações estáveis entre todos os países lusófonos.