Amadeu Castanho é especialista em Marketing, jornalista desde sempre, apaixonado por viagens e estudioso de Turismo Religioso. Casado desde sempre com uma descendente de portugueses e pai orgulhoso de dois filhos.
O Brasil, Portugal e eu
Olhando cá do meu canto, é muito difícil separar o Brasil de Portugal. Talvez seja porque minha avó materna era portuguesa e, mesmo tendo vindo ainda criança para o Brasil, dona Margarida nunca perdeu um toque do sotaque lusitano, apesar de suas irmãs e irmão terem preservado ainda mais o sotaque lá de São João da Madeira. Meu bisavô, então, nem se fala. Ou por Portugal ter estado sempre presente na minha vida através da cozinha.
Em dias de festa em família, a bacalhoada caprichada era presença quase que garantida. Bacalhólatra confesso, eu passava o período entre as festas passando praticamente todos os dias depois da escola no armazém dos meus avós e rasgando nacos de bacalhau salgado expostos sobre barricas e os mastigando calmamente no caminho para casa. Claro que perícia culinária da dona Margarida não se limitava ao bacalhau, mas sinto até hoje, décadas depois, o sabor dessa bacalhoada e da torta de frango de massa folhada, que eu adorava “assaltar”, tirando pedacinhos da cobertura crocante nem bem saia do forno.
Demorei a visitar Portugal, mas foi questão de chegar e logo me sentir em casa. O casario, as igrejas, o calor humano, a língua, a comida, tudo me remetia ao Brasil. Verdade que por aqui não temos castelos, a história é muito mais recente e quando saímos para caminhar pela cidade não sentimos o perfume de pasteis de nata saindo do forno. Não fosse o preço do voo para atravessar o Atlântico, faria mais vezes o percurso entre Brasil e Portugal. Se possível, várias vezes por ano.
Afinal, apesar de gostar – e muito – de viajar, não é em todo lugar que me sinto em casa, como acontece tanto em Lisboa quanto nas cidades e vilas do resto do país. Como escrevi antes, cá do meu canto é muito difícil separar o Brasil de Portugal.