Fez Direito na USP. Foi Presidente do Diretório Acadêmico da FADUSP. Foi Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo de 1995 a 2000 e Secretário da Administração Penitenciária em 1995.
Advogado militante desde 1970. Foi defensor de presos e perseguidos políticos durante o regime militar. Presidente do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta (TV Cultura 2012 – 2016)). Advogado integrante da sociedade RUBENS NAVES – SANTOS JR – ADVOGADOS (São Paulo – Brasil, desde 2000).
É Membro da Comissão Internacional de Juristas, desde 2008. Realizou inúmeras missões internacionais na área de direitos humanos. Autor de conferências e artigos.
Nasci por um ato de generosidade. Meu pai era brasileiro. E assim também minha mãe. Mas, meu avô era português, assim também minha avó.
Chegaram de Portugal ao Brasil durante a chamada grande imigração portuguesa, fim do século XIX, começo do século XX, não só por problemas econômicos mas também em função da instabilidade política na Europa, pelos movimentos contestatórios e revolucionários do período.
Casaram-se em Santos, cidade portuária brasileira, que até a segunda metade do século XX era quase sempre o destino de portugueses com a mesma origem.
Anos mais tarde foram para Presidente Alves (próximo de Bauru) onde meu avô e meus tios passaram a exercer o comércio. Meu avô morreu muito cedo, aos 49 anos, em 1935. Não alcancei conhece-lo. Na minha infância, ele era uma foto antiga que meu pai mantinha na parede num chalé em Santos.
Mas uma decisão dele marcaria minha vida. Meu Avô e meus tios, ao início dos anos 30, decidiram, por razões econômicas, que só um dos filhos poderia ter acesso ao ensino superior. Meu pai foi avaliado como aquele que melhor proveito tiraria do ensino universitário. E foi em função dessa generosa decisão, que meu pai veio a São Paulo. Quase morreu ao aderir à Revolução de 32, mas se tornou advogado, professor, encantou-se por uma de suas alunas, minha mãe, com quem se casou. E eu vim ao mundo.
Mas, essa história só me foi contada recentemente por um primo mais velho que também me informou que meu avô obtivera desde logo após sua chegada, o diploma de carroceiro, de que agora tenho cópia. Esse fato, ademais de anotar seu ânimo de trabalhador, sempre encheu sua família de orgulho. A mim, também, claro.
Durante muito tempo pensei como poderia a ele agradecer.
Cresci ao lado dos livros de Eça de Queiroz, Miguel Torga, Camões, claro, e Padre Vieira (a coleção dos seus sermões foi parte da herança cultural que recebi de meu pai). A essas figuras mais tarde, eu acresceria Saramago, Fernando Pessoa, Antonio Lobo Antunes Florbela Espanca, Inês Pedrosa e entre outros.
E decidi. Deveria visitar Miranda do Corvo, onde ele nasceu, o que farei no próximo mês, em viagem à terra. Aprofundar-me na história. Repassar sua rica literatura. Na última viagem a Portugal, em 2017, fui ao Algarve, onde em Tavira se celebrava aniversário do heterônimo Álvaro de Campos. E estando em Coimbra, fui a lugares que me aproximaram de Miguel Torga e Camões. Foi uma visita para “rever” meu pai e meu avô (e, claro minha querida avó Albertina de quem herdei a lembrança de um carinho sem limites e alguns lindos centros de mesa de crochê…).
Mas, também deveria me aproximar oficialmente da comunidade portuguesa no Brasil, com quem já tinha alguma ligação (minha família em Santos, alguns queridos clientes, alguns fornecedores e muitos amigos) e oferecer minha colaboração, no que quer que fosse.
Não achei que fosse fácil. Mas, a recepção que tive de todas as pessoas desde a primeira vez, tanto no Conselho da Comunidade Luso Brasileira quanto na Casa de Portugal, me fizeram entender porque ali me sinto convivendo com minha família portuguesa e porque em Portugal tenho sempre uma prazerosa sensação de dejà vu.
Entendi que essa mescla de generosidade com empreendedorismo que aprendi a reconhecer nessas andanças é como uma ideia matriz da alma portuguesa. A ousadia de lançar-se, o travo da saudade que aparece na música, a hospitalidade, o convite para a comida compartilhada, inclusive para mim, que nestes novos espaços era quase um estrangeiro, foram um prazer recente que deixa sempre gosto de “quero mais”.
Imagino que possa haver outras formas de “visitar” o avô nunca conhecido, mas essa que escolhi me enche permanentemente de emoção. Jesuíno era seu nome.