Cursus honorum
1. Carlos Guilherme Mota, Professor Emérito da Faculdade e Filosofia da USP. historiador, é Professor Titular (aposentado) de História Contemporânea da FFLCHUSP, e Professor Titular de História da Cultura (Programa de Mestrado e Doutorado) na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. É Professor Honorário do Instituto de Estudos Avançados da USP, do qual foi Diretor fundador (1986-88, na gestão do reitor Goldemberg).
2. Ex-Professor Visitante das Universidades de Londres, Texas, Salamanca e Stanford. Ex-membro da Comissão de Avaliação do Programa de América Latina da Universidade de Princeton (EUA) e do Wilson Center (Washington). Foi Diretor de Estudos da École des Hautes Études (Paris, 1985).
3. Ex-Diretor do Arquivo do Estado de São Paulo e um dos criadores do Memorial da América Latina, a convite de Darcy Ribeiro.
3. Obras: Escreveu várias obras, dentre elas Ideologia da Cultura Brasileira (Editora 34; pref. de Alfredo Bosi), Nordeste 1817.Estudos das Formas de Pensamento (Editora Perspectiva, 1972 e 2006), A Idéia de Revolução no Brasil e outras Idéias (E. Globo, 2008; o primeiro de 4 volumes de suas obras reunidas, com prefácios de ex-estudantes; este volume inclui também prefácio á 1ª edição em Portugal do professor Vitorino Magalhães Godinho); História da Folha de S. Paulo, com Maria Helena Capelato (SP, Impres, 1981); e 1789-1798. A Revolução Francesa (Perspectiva, 2007).
Coordenou Brasil em Perspectiva (São Paulo DIFEL, 1966, prefácio de João Cruz Costa); Viagem Incompleta. A Experiência Brasileira. 1500-2000 (São Paulo: Ed. SENAC, 2000, 2 volumes; 25 autores) e Juristas no Formação do Estado Luso-Brasileiro, Século XVIII a 1850 (São Paulo: Quartier Latin, 2006). Os volumes II (1850-1930) e III(1930-2008) estão no prelo. No momento, redige suas Memórias de Outono.
4. Seu livro mais recente, já em 2ª edição, é o volumoso e polêmico História do Brasil. Uma Interpretação (em co-autoria com Adriana Lopez; Editora Senac, 2008, 1.056 páginas, com prefácio do embaixador e historiador Alberto da Costa e Silva, também publicado em espanhol pela Editora da Universidade de Salamanca).
5. Um dos membros fundadores da revista Estudos Avançados, do Instituto de Estudos Avançados da USP, e membro dos conselhos editoriais da revista Nossa América (do Memorial da América Latina), Minius (Universidade de Vigo) e Aedificandi (Mackenzie). Foi editorialista da Folha de S. Paulo (1979-81) e colabora no jornal O Estado de S. Paulo, tendo várias entrevistas e intervenções publicadas nesses jornais (e outros), e em revistas como Isto É/Senhor, Getúlio (da FGV), Carta Capital etc.
Brasil e Portugal numa era de globalização: um apelo-manifesto à luso-brasilidade
No Brasil, nestes tempos de globalização desenfreada, vivemos formas ainda precárias de organização da vida político-social, alimentando justificativas disparatadas sobre atalhos que tentam compensar a tal modernidade que tarda em chegar. Não há tais atalhos.
Se há neste país sinais de exaustão de um ciclo histórico, também podem ser o prenúncio de uma nova etapa histórica que está por se abrir, e para a qual devemos nos preparar. Já Portugal viveu uma passagem turbulenta – embora em período relativamente breve, se comparada com a longuíssima transição brasileira- do regime ditatorial para o democrático. E deu passos largos para sair do ensimesmamento salazarista para a convivência européia. Teve que se livrar em curto espaço de tempo de suas estruturas obsoletas, controlar o desemprego, atualizar práticas financeiras, desmontar esquemas protecionistas, desregulamentar, liberalizar. E sem perder sua identidade nacional! Tudo para entrar na economia européia, participar dos circuitos da chamada globalização. Menos que no Brasil atual, viveu-se lá febrilmente a mística do mercado, que soterrou por um tempo muitas utopias e amesquinhou a liberdade do cidadão em função de sua posição no mercado de trabalho. Ledo engano.
Mas agora vem o reparo histórico que faltava, quando vozes em Portugal qualificam a “globalização”, fazendo notar ser ela “simultaneamente uma realidade, um mito, uma ideologia e, muitas vezes, uma simples desculpa”. Claro que se sabe que existe hoje maior interdependência entre as economias; os portugueses aliás viveram a maior parte de sua história internacionalizados, ou se internacionalizando, sem perder porém sua forte identidade. Vozes, lá, advertem que o mundo ainda não funciona numa economia verdadeiramente global-democrática. Embora se caminhe nessa direção, o que contam ainda são os Estados e os “sistemas nacionais de inovação e de redistribuição”. Mais: os Estados Unidos, o Japão e a União Européia no seu conjunto só importam do exterior cerca der 9% a 10% do seu produto nacional… Enquanto falamos em abrir nossas economias, esses países continuam funcionando no paradigma do Estado-nação, deixando para as periferias a mitologia da abertura de mercados.
Portugal hoje vai se ajustando (bem) ao novo conceito de cidadania européia, ao mesmo tempo em que suas lideranças agora parecem estar mais atentas aos efeitos sociais da integração, e à sua esquecida vocação atlântica. Daí a importância de uma aproximação maior de nossa parte com lideranças lusas, alertas para o papel que o Brasil, país líder da América do Sul, poderá cada vez mais assumir para a economia e sociedade luso-brasileira. A região já seria a quarta potência comercial do mundo e está bem posicionada para altas negociações com a União Européia. E os portugueses, por razões histórico-culturais nada desprezíveis, poderão ser interlocutores privilegiados para a América do Sul. Está posto o desafio: diversamente de outros parceiros europeus, Portugal, ainda nesta primeira década do novo milênio, vive a chance histórica exclusiva de redescobrir o Atlântico, e de criar um novo paradigma, liberal-democrático e socializante.
De nossa parte, temos, no Brasil, muito o que aprender com a União Européia e com os portugueses, pois lá, como cá, existe grande preocupação com o confronto entre cidadãos e excluídos, questão lembrada pelos dois governos.
Em síntese, trata-se, lá como aqui, de desenvolvermos uma “identidade pósnacional”, fato novo na globalização, com a energia dos luso-brasileiros, criando-se mecanismos políticos, sociedades e entidades culturais consistentes, supranacionais, que assegurem essa nova cidadania internacional. A luso-brasilidade é uma categoria única na História; nem os anglo-saxões conseguiram esse amálgama entre ingleses e norte-americanos! Cidadania com todas as garantias de respeito ao cidadão lá e cá, que não pode se transformar apenas em dado estatístico nas flutuações do mercado de capitais e de trabalho local, regional ou internacional. Vamos tentar, juntos os luso-brasileiros, construir avanço histórico-cultural efetivo.