“Todo homem tem deveres com a comunidade”

Declaração Universal dos Direitos do Homem

Opinião
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Dalila Teles Veras (nome literário de Dalila Isabel Agrela Teles Veras) é natural da Ilha da Madeira, Portugal. Reside em Santo André desde 1972, ano em que se casou com o advogado e escritor Valdecirio Teles Veras e com quem teve 3 filhas. Publicou os livros: Lições de Tempo, Inventário Precoce, Elemento em Fúria, Forasteiros Registros Nordestinos (plaquete), Madeira: do Vinho à Saudade, A Palavraparte, À Janela dos dias – poesia quase toda (2002), “Vestígios”, plaquete (2003), “Poesia do Intervalo”, com desenhos de Guedo Gallet, e “Solilóquios”, plaquete, “Pecados”, plaquete, todos de poesia. Retratos Falhados (poesia) é seu mais recente livro, publicado na coleção Ponte Velha da Editora Escrituras (SP), que divulga a poesia contemporânea portuguesa. No gênero crônica, é autora de A Vida Crônica e As Artes do Ofício. Em 2000 publicou Minudências, um diário do ano de 1999. Participou de mais de uma dezena de antologias no país e no exterior. Possui trabalhos (artigos, ensaios e textos literários) publicados em jornais e revistas do país e do exterior (Folha de São Paulo, Revista Cacto, Revista Livrespaço, Revista A Cigarra, Jornal Letras & Artes, Portugal, entre outros). Animadora cultural, há mais de três décadas organiza cursos, seminários e congressos. É freqüentemente convidada a proferir palestras em Faculdades e instituições culturais, bem como a assessorar, produzir projetos literários, como ciclos de debates, exposições e mesas redondas. Fundadora do Grupo Livrespaço (1983-1994) que manteve intensa atuação na divulgação da poesia e publicou 5 coletâneas. Foi uma das editoras da revista literária “Livrespaço” ganhadora do Prêmio APCA, como melhor publicação de 1993, bem como editou a revista de debates “Em Movimento”. Desde 1992 é diretora-proprietária da Alpharrabio Livraria e Editora, em Santo André, SP, também centro cultural onde promove constante atividade voltada para a divulgação da literatura, o debate de idéias e apresentações artísticas; A chancela Alpharrabio Edições, já publicou perto de uma centena de títulos de autores, na sua quase totalidade residentes na região do Grande ABC. Assinou, de 1995 a 1999, a coluna semanal Viaverbo, no Caderno “Cultura & Lazer” do Diário do Grande ABC. É filiada à União Brasileira de Escritores, entidade onde ocupou os cargos de Secretária Geral, Diretora e membro do Conselho Consultivo (gestões de 1986/88, 1990/92 e 1994/1996).

Em 2000 a revista Livre Mercado outorgou-lhe o Prêmio Desempenho de Empreendedora Cultural. Em 2004, a Câmara Municipal de André outorgou-lhe o título de Cidadã Honorária.

Dalila Teles Veras
Empresária e escritora

SENTIR-SE PORTUGUÊS NA DIÁSPORA

O primo mandou dizer a meu pai: venham, o país é bom e a gente generosa e o vosso sustento será garantido; além do mais, na altura do carnaval as mulheres, dadivosas, desfilam nuas sem preocupação de esconder suas vergonhas. Aqui se dança e canta de dezembro a fevereiro. O trabalho é abundante e a terra nunca se acaba. Viemos.

Um enxoval novinho em folha nas malas e das velhas coisas, só o essencial: a máquina de costura, louças e lençóis bordados, cobertores, um diploma de 4a. classe, uma cartilha de João de Deus e o dinheiro apurado com a venda de todos os pequenos bens acumulados durante a vida inteira. Um sonho comprado em forma de passagem num paquete e a curiosidade habitando olhos famintos de novas gentes e terras para lá do Bojador. Além da dor? Talvez, já que ao partir, carrega-se sempre a intenção de ser outro. Outras dores, não importa, o sonho comanda a nau.

Fácil será, porém, descobrir que ninguém atravessa impunemente a linha do Equador. A história contada no país novo não é a mesma contada nas cartilhas escolares. A saga dos homens intrépidos, cruzando oceanos e descobrindo mundos, sem temor a sargaços nem batalhas tem aqui nova versão. De heróis passamos a usurpadores e carrascos. De personagens da História passamos a personagens de piadas, estereótipo de homem inculto.

De colonizador a colonizado, a confusão de identidade. A dualidade se faz presente como estigma. As raízes, veias abertas, passam a receber influências novas, convívios outros, injeção de latinidade continental, determinando nova visão de mundo. O cozido feito pela mãe convive pacificamente com a feijoada da casa do vizinho,o vinho, ainda produzido no quintal pelo pai, substituído pela cerveja na roda de amigos. O sotaque e a escrita se modificando, a próclise no lugar da enclíse, num ser agora em absoluto sincretismo cultural.

E não são mais os mares que começam, mas terras e cores que nunca se acabam. Jacintos deslumbrados incorporando Macunaímas, Antónios que se transformam em Antônios, Amálias metamorfoseadas em Betâneas, senhores na pátria, inda que de alguns palmos; servos na diáspora, refazendo caminhos ao inverso.

A pátria não é mais a língua, a pátria somos nós, diáspora em busca de cidadania.

Rendidos, soltamos a âncora no porto e aceitamos um papel de “permanência” que, no entanto, deve ser temporariamente renovado.

Ainda assim, finca-se a âncora mais fundo e já dançamos ao ritmo tropical. Geramos filhos que já nos falam com outras vozes e de outras coisas, a brasilidade abrindo sutilíssimas fendas nos atavismos e convicções. O regresso, a princípio diariamente planejado, já é um doce e eterno adiar. E, se por ventura, algum mais afortunado amealhou o suficiente para fazê-lo, logo poderá constatar que é, agora, impossível retornar. Assim como as águas do rio do velho Heráclito, também nós não somos mais os mesmos, tampouco os amigos e parentes que um dia lá ficaram e que povoam nossos sonhos de doída saudade. Além do mais, o novo sotaque determina que também lá, na velha pátria, sejamos igualmente estrangeiros. Nem de lá, nem de cá; e, neste caso, a língua não nos serve de teto nem de pátria, falta-nos a cidadania.

E, ao tocar novamente o solo tupiniquim, uma quase certeza dentro da eterna dualidade: a âncora está por demais enterrada, pintada já de verde/amarelo, na cara dos filhos e do amado (apesar do verde-encarnado, indelével, lá no fundo do peito).

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Somos privilegiados pela herança lusitana e também por podermos contar com o Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Estado de São Paulo que é o órgão que congrega nossa cultura viva em solo paulista. Pelo Conselho a história não se perde, porque uma das diretrizes da entidade é preservar e valorizar nossos usos e costumes que mantêm a tradição de nossa gente sempre presente nos festivais, no folclore, na música e na gastronomia. A ação do Conselho é defender um legado histórico e cultural inestimável.

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