E há razões para que isso aconteça, às quais não são alheias a ações sistemáticas dos meios de comunicação lusos, mormente as televisões. Na realidade, desde que começou a operar em Portugal a RTP – Radiotelevisão portuguesa – já lá vão mais de 50 anos – que logo desde o inicio da programação, os portugueses se habituaram a conhecer e apreciar as grandes figuras da cultura brasileira, como foi o caso de Vinicius de Moraes, Ivon Cury e tantos outros, que ali mantinham programas semanais de grande audiência. Com o tempo, este fenômeno foi-se ampliando a outros canais e as novelas do Brasil de que “Gabriela Cravo e Canela” foi a precursora, com um estrondoso êxito, fazem, de há muito, parte dos hábitos televisivos dos portugueses.
Não é por acaso que os cantores e atores brasileiros continuam a lotar as grandes casas de espetáculos de Lisboa, do Porto e de outras grandes cidades portuguesas. Ao que consta, alguns têm mesmo casa própria em Portugal, como Fáfá de Belém, por exemplo.Luis Filipe Scolari, o grande (ex) treinador da seleção das quinas foi, até há bem pouco tempo, um caso sério de popularidade e um especial alvo do carinho das gentes portuguesas, adeptas, ou não, do futebol.
Perante tudo isto, temos de convir ser escassa a reciprocidade brasileira. Não tanto pelo povo, ligado na sua maioria a raízes lusitanas e sempre interessado em saber o que lá se passa, mas sobretudo pela mídia e, porque não dizê-lo; também pelo estado, que não se evidência como um mobilizador (pelo menos) cultural, como seria de esperar, face aos múltiplos acordos assinados e a tantas promessas feitas. Só para citar um exemplo; falta no Brasil um canal português na oferta da televisão por cabo. Há os de todos os quadrantes geográficos e até um em língua árabe, mas nenhum onde se ouça falar a língua “matter”. E aqui no Brasil, como acontece em Portugal, certamente cabe à área de comunicação estatal autorizar e/ou enquadrar essa operacionalidade.
Lembro que – ainda não faz muito tempo – Hebe Camargo anunciou no seu programa que iria passar um documentário sobre o norte de Portugal na semana seguinte. Na data aprazada, as audiências bateram todos os recordes. Portanto; o povo quer estar mais perto de Portugal e aos ‘mídia’ cabe observar essa vontade e dar-lhe satisfação. Penso que tudo passa pelo necessário empenho das pessoas que têm poder decisão nestas matérias. Só isso.
Nota biográfica
Nasci em 1945, no típico bairro da Ajuda, em Lisboa, Portugal. Lá do alto, pode ver-se parte do belíssimo estuário do Tejo e ainda se vislumbra o espaço vizinho da Torre de Belém, que assinala o local de partida das naus portuguesas a caminho da epopéia dos descobrimentos. Lisboa está-me nas veias, tal como a literatura e a poesia, que sempre me cativaram o espírito. Todavia, e por circunstâncias da vida familiar, cedo conheci Sintra, onde vivi e estudei durante toda a fase do ensino secundário. Uma vila encantada, que ainda hoje visito regularmente. A freqüência do Instituto Comercial e da Faculdade de Economia levaram-me, de novo, ao cotidiano da capital, até que chegou o tempo de cumprir o serviço militar. Corria então o ano de 1966. Cinco anos volvidos, e depois de uma breve passagem por uma multinacional norte americana, tomei rumo na redação de um jornal que então havia iniciado a sua publicação. Começava aí a tomar forma a minha natural vocação pelo mundo da comunicação, onde evoluí durante mais de trinta anos, divididos entre a escrita, a vida comercial e a publicidade. Sempre na cidade de Lisboa.
Conheço parte da Europa e alguns países do norte de África, onde a minha natural apetência pela história dos povos me foi levando. Hábitos de leitura, a que uma avó querida não é alheia, dotaram-me de vontade e gosto pelo conhecimento. Entre os momentos que lembro em que o espírito mais se deliciou, avultam os consagrados à leitura dos grandes mestres portugueses; de Luís de Camões a Eça de Queiroz, de Alexandre Herculano a Camilo Castelo Branco. Todos contribuíram muito para o meu enriquecimento espiritual. O deslumbramento pela poesia chegou em 1968, trazida num livrinho que recebi das mãos de José Saramago, ao tempo colaborador do Jornal A Capital, onde iniciei a minha atividade de comunicador. Ainda guardo esse exemplar autografado pelo meu amigo e nosso prêmio Nobel. Chama-se: “Provavelmente Alegria”.
Se tivesse que explicar as influências da minha poesia, escolheria, sem dúvida, como fonte maior de inspiração, a segunda metade do chamado período barroco (meados do século XVII – fins do século XVIII ), sem esquecer os vastos, e sempre presentes, recursos do arcadismo – que lhe foi sucedâneo no tempo – mormente tudo o li do grande Bocage. Admito, todavia, que, no século XIX, romantismo dentro, se escreveu muito bem o lirismo amoroso, que em mim e em muito do que escrevo, encontra, também, expressivo eco.
Já aposentado, e após ter assegurado, cerca de uma ano, o pelouro da Cultura e Comunicação em Alverca, decidi instalar-me em São José do Rio Preto, no Brasil, onde assumo, na AVPB – Academia Virtual Poética do Brasil, a vice presidência e a assessoria literária e edito o espaço Poesia & Literatura deste importante site, reconhecido como um dos melhores do Brasil.
Está em fase de preparação – para edição em Dezembro deste ano – a minha primeira Antologia Poética, que será constituída por três volumes virtuais (e-book) temáticos, reunindo mais de 210 poemas e textos poéticos escolhidos e algumas crônicas.
“Vertentes há na análise da morte
que por despercebidas nos transcendem
mas nada muda o destino da sorte
dos que por não a ter guardam no porte
a assumpção da desdita e não se rendem”
Eugénio de Sá
Praticamente em todos os recantos de Portugal, há hoje brasileiros e brasileiras trabalhando e estudando, perfeitamente entrosados com os seus irmãos portugueses. Nas faculdades, nos hospitais, nas clinicas e consultórios, nos restaurantes e cafés e em variadas empresas de norte a sul do país, a imensa representação brasileira faz-se sentir e constituiu já a mais representativa fatia da imigração residente. E isto é tão mais significativo, quanto é sabido que, após a descolonização, afluíram à lusa pátria largas centenas de milhar de cidadãos das ex-colônias, sendo, até há bem pouco tempo, uma dessas comunidades, mais precisamente a de origem cabo verdiana, a primeira em número. Por parte dos portugueses, desde o inicio da segunda metade do século XX que vem sendo cada vez maior a apetência por um maior convívio entre os dois povos.