José Eduardo Martins nasceu em 1938 na cidade de São Paulo, onde começou seus estudos com o professor russo José Kliass. Mais tarde, trabalhou durante alguns anos em Paris, com Marguerite Long, Jean Doyen e matérias teóricas com Louis Saguer. Como pianista, Martins realizou ciclos com as integrais de Debussy, J-P. Rameau, Moussorgsky e Francisco de Lacerda. Apresentou igualmente, em primeira audição absoluta, mais de 100 composições contemporâneas de autores de diversos países. José Eduardo Martins tem 20 CDs gravados na Bélgica, Bulgária e Portugal, lançados pela Labor (U.S.A.), PKP (Bélgica), Portugaler (Portugal) e, sobretudo, pelo selo De Rode Pomp, da Bélgica Flamenga. Martins é autor de diversos livros sobre música, de quase uma centena de artigos publicados em diversas revistas e periódicos de vários países. Desde 1978 realiza estudos sobre o compositor romântico brasileiro Henrique Oswald, por ele redescoberto, traduzidos em inúmeras gravações de LPs e CDs, edições de partituras, livro e artigos. O seu relacionamento com Portugal é intenso. Pelo selo Portugaler gravou CD inteiramente dedicado à obra de Fernando Lopes-Graça. Apresentou em primeira audição absoluta, em várias cidades portuguesas, obras de Lopes-Graça, Clotilde Rosa e Jorge Peixinho. José Eduardo Martins é Doctor Honoris Causa pela Universidade Constantin Brancusi da Romênia. Recebeu em Bruxelas a Ordem do Rio Branco, uma das honrarias mais significativas do governo brasileiro. Martins é professor titular aposentado da Universidade de São Paulo.
A relação cultural entre países deveria pautar-se sempre pelo respeito mútuo e também pela vontade da divulgação de valores existentes no seio das comunidades que se interligam. Portugal e Brasil têm a afinidade sanguínea como qualidade fulcral. Deveriam estar irmanados numa integração sem restrições, ilimitada. Se a língua portuguesa é falada e escrita em muitas terras do planeta, seria contudo em Portugal – pátria mater – e Brasil, que a inexistência de dialetos, ditados por etnias, estaria a proporcionar harmoniosamente a integridade absoluta de uma única vocação linguística.
No campo da música erudita, onde mereceria haver uma intensa troca de repertórios, ouvindo-se em ambos os países autores comuns aos nossos povos, a integração não acontece. Acredito que a música de concerto brasileira, apesar de moderadamente apresentada em Portugal, não tem a recíproca por parte do Brasil. Constrangedoramente, desconhece-se em nossas terras as obras extraordinárias de compositores portugueses por falta de interesse de nossos intérpretes e pelo descaso de alguns consagrados instrumentistas de Portugal, que preferem percorrer suas vocações no tradicional repertório repetitivo europeu que privilegia sempre os mesmos países e autores.
Outros intérpretes portugueses, igualmente de méritos, que divulgam na excelência a criação escrita em Portugal, mas sem a ventilação publicitária dos primeiros, não são convidados pelas associações artísticas brasileiras. E o silêncio se instaura. Se Congressos estão permanentemente a ser realizados no eixo Portugal-Brasil no âmbito musical, ficam eles basicamente restritos ao universo acadêmico. É uma triste realidade que não dá mostras de mudanças. Carlos Seixas, Marcos Portugal, Francisco de Lacerda, Viana da Mota, Lopes-Graça, Luís de Freitas Branco, Jorge Peixinho são grandes compositores portugueses, mas não conhecidos entre nós. Sequer há o mínimo esforço de nossas sociedades de concerto em fazer divulgar esses autores e outros tantos. O caminho passa a ser trilhado individualmente, mas a trazer inefável alegria. Dos 20 CDs que gravei no Exterior, quatro foram destinados inteiramente aos compositores portugueses. Frise-se, três gravados na Bélgica e lançados por selo belga. As mais de 40 viagens a Portugal foram sempre destinadas à atividade de pianista ou professor.
Neste 2009 comemorei, em apresentações do Minho ao Algarve, 50 anos de meu primeiro recital em Portugal – 14 de Julho de 1959 -, realizado na Academia de Amadores de Música em Lisboa, a convite do insigne compositor Fernando Lopes-Graça. Do programa constavam unicamente obras criadas por compositores de nossos países. Onde estiver, meu saudoso pai, nascido na região de Braga, sabe as razões do afeto.