No início do ano que vem, o Conselho da Comunidade Luso-Brasileiro completa 25 anos de existência. Muita coisa mudou nestes 25 anos e acredito que está na hora de nos questionarmos o que é preciso mudar para que instituições de caráter associativista possam continuar a ter o seu papel fundamental nas comunidades que representam ou dinamizam.
Assistimos a uma mudança geracional gigantesca nestes 25 anos. De que forma esta mudança pode e vai afetar o futuro destas instituições?
O Conselho da Comunidade foi criado por um grupo de portugueses idealistas e empreendedores de sucesso que emigraram para o Brasil na primeira metade do século XX, com um objetivo associativista alicerçado na história, na cultura e no convívio social dos portugueses no Brasil. Porque não foi criado mais cedo? Na minha visão simplista, teve a ver com o boom de emigração pós 25 de Abril entre 1974 e 1980, que trouxe para o Brasil uma nova geração de portugueses, a grande maioria sem raízes locais, sem emprego, sem dinheiro, mas com muita esperança no novo mundo.
Esta nova geração veio desplotar a necessidade de criar um elo de ligação entre estas gerações, os que ja estavam no Brasil com suas famílias e seus negócios e os que tinham acabado de chegar. Um destes emigrantes foi o meu avô paterno Baltazar Rebelo de Sousa, ministro do antigo regime de Salazar e Marcelo Caetano, que veio para o Brasil em 1974 e regressou a Portugal em 1992 para reencontrar a família.
Neste contexto, o Conselho da Comunidade desempenhou um papel fundamental de aproximação e partilha destas diferentes gerações de luso-brasileiros: os que já nasceram no Brasil, filhos de portugueses que emigraram no final do século XIX, início do século XX; os que emigraram entre os anos de 1920 e 1960; e os qu e chegaram após 1974. Diferentes gerações, mas com um DNA único, costumes únicos, hábitos únicos e, sobretudo um sentido de estado e de saudade da pátria-mãe muito predominante.
Mais recentemente, tivemos dois momentos de emigração portuguesa mais acentuados: entre 1997 e 2002, com a vinda para o Brasil de importantes grupos econômicos portugueses (CGD, Sonae, BES, JM, PT e EDP) e agora entre 2010 e 2013, fruto da crise econômico-financeira mundial, que afetou particularmente os países do Sul da Europa (Portugal, Itália, Grécia e Espanha). Coincidentemente, eu faço parte dos poucos felizardos que tiveram o privilégio de participar destes dois movimentos, tendo vivido e trabalhado no Brasil em 1999 e 2000 no BES Brasil e agora desde janeiro de 2011 na EDP Brasil.
A conclusão a que eu chego, olhando esta evolução geracional, estes cinco momentos de emigração portuguesa, é de que é fundamental inovar e revolucionar o conceito de associativismo p ara se conseguir mobilizar as novas gerações. Primeiro, porque as novas gerações são muito mais apátridas, consideram-se cidadãos do mundo graças à rapidez de informação e à ausência de barreiras e fronteiras. Segundo, porque o tempo hoje é o bem mais precioso e escasso, as pessoas não têm tempo para nada, andam a correr entre a sua vida pessoal, social e profissional e o número de solicitações é infinitamente mais elevado hoje do que há dez anos atrás. Terceiro, porque o indivíduo enquanto ser social evoluiu num sentido tal que o associativismo na sua essência histórica, hoje já não faz parte das suas prioridades de vida. Esse associativismo foi substituído pelas redes sociais e profissionais que transformaram essa necessidade básica do indivíduo, pois ele está sempre online na sua comunidade de amigos e conhecidos.
Não existem duas opções!
Fico feliz por ver que o nosso Conselho da Comunidade já iniciou este caminho da modernização, que não tem volta e que vai permitir desafiar novos horizontes para os próximos 25 anos.